Os serradores de madeira em Glória do Ribatejo
Há muito, muito tempo, talvez entre os anos 30, 40, terão vindo serradores de madeira para Glória do Ribatejo. Não se sabe quando nem de onde vieram, mas uma memória ténue recorda-me algums tarefas desses serradores, em que um ficava da parte alta do tronco e o outro na de mais baixa, conforme ilustra o desenho.
Serravam durante o dia e respiravam muito alto cansados.
Eu nunca tinha visto nada de tão importante na minha aldeia.
Eles elevavam os grandes toros de madeira com muito esforço e colocavam-nos sobre cruzetas para os suster. Este trabalho era feito a pulso de alguns homens e com a ajuda de animais quando não tinham por perto inclinações no terreno para facilitar.
Ao nascer do sol lá estava o som das serras manuais que me enchia de curiosidade até quase ao escurecer. Lembro-me de a minha mãe me ralhar por eu não estar mais cedo em casa. Por vezes chamava-me de casa que ficava longe onde me encontrava e eu ouvia, aliás, todos estavam alerta sobre esse tipo de chamamento dos seus familiares para irem almoçar ou cear (jantar). Não havia sons altos além dos produzidos pelos serradores.
As curiosidade que sinto hoje por algo novo e extraordinário não é comparável ao fascínio e à emoção que me proporcionaram as azáfamas dos serradores de madeira. Lembro-me que antes de serrarem os toros em grandes tábuas marcavam-nos com um fio pintado. O fio era preso a uma das extremidades do toro e, depois de bem esticado, puxavam-no e largavam-no de repente para ficar a marca que servia para guiar a serra no corte.
Estavam sempre pessoas a assistir, algumas comentavam que aprendiam para também virem a ser serradores de madeira. Era uma profissão de grande prestigio, ninguém se iniciava só por ver serrar, os aprendizes pagavam para aprender com os mestres.
Os serradores acabaram na Glória, e durante algumas décadas surgiram as serrações que também já se extinguiram. Gostava muito de poder contar mais sobre os serradores, mas não tenho a noção exata desses acontecimentos, o que me deixa triste por não proporcionar a mesma emoção que senti ao ver em ação os serradores de madeira na minha terra.
Publicado: 2012 (c) Celestino Silva
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