Sobre o MOGR
Museu Online de Glória do Ribatejo (MOGR) surgiu na década 60 com o objetivo de preservar a cultura gloriana e projetá-la pelo mundo.
O estímulo pela preservação da cultura gloriana nasceu em mim no início da década 60. Estava em curso uma acelerada mudança cultural em Glória do Ribatejo. Os mais velhos usavam palavras únicas e tradicionais que alguns dos mais novos não entendiam. Os jovens afastavam-se da sua cultura ancestral pela diferença comparativa à de outros povos por via da escolaridade e de novas vivências,
Olhei mais profundamente para a projeção da cultura da minha terra e reparei que já havia um grupo folclórico a fazer recolhas de trajes e a levar a cultura de danças e cantares para outros lugares de Portugal, inclusive por via da TV. Os primeiros passos no âmbito do folclore e na base da cultura de espetáculo do palco estavam dados. A outra cultura imaterial, a que eu via a desaparecer na Glória, não tinha suporte de preservação e divulgação na altura.
A hora de agir tornou-se imprescindível e iniciei a recolha de material através de slides e fotografias. Infelizmente, muitos desses slides foram para o museu de Salvaterra (o da vala) e nunca mais voltaram, apesar de insistir muito com a pessoa que me solicitou e levou esse trabalho. Esta imprudência levou-me a ter de recomeçar tudo de novo em fotografias, e no ano 65 obtive a primeira máquina de filmar em fita de 8 milímetros. Esse sistema ficava muito caro, pois cada vez que se filmava tinha de se comprar fita e depois para ver as imagens tinha de a mandar revelar nas empresas de revelação das marcas das fitas. Passaram 3 anos e adquiri a primeira câmara de vídeo com o sistema Beta Max, muito cara na altura mas mais barata nos custos de utilização. Reiniciei as filmagens na década 80, mais assiduamente, com a colaboração da direção do então Rancho Folclórico da Casa do Povo, na pessoa do António Pote, que me orientava os trabalhos das filmagens na Glória para o fim de semana porque eu trabalhava em Lisboa.
Porém, um senão, o sistema de vídeo de mais qualidade na altura era em Beta Max, o mesmo sistema que veio a perder para o VHS de menor qualidade. As avarias na camara sucediam-se e não havia assistência adequada, além dos meus remedeios, daí a má qualidade de alguns registos. Entretanto, em 2009, entendi ser necessário digitalizar este material para poder fazer as montagens, mas não havia forma de ler para o computador, todos os equipamentos deste sistema Beta Max tinham desaparecido do mercado. Sucederam-se muitas peripécias que não vou descrever aqui e chegou o dia em que foi possível inicializar a digitalização de forma precária, já que o leitor melhor que consegui, depois de comprar alguns bastante caros por se tornarem relíquias, não lia bem as fitas Beta Max. Concluída esta difícil tarefa, chegou a altura de divulgar estes trabalhos e procurei um meio onde eu pudesse ajudar. Encontrei a via da Internet que ainda era muito restrita às pessoas comuns, felizmente que, para mim, já fazia parte do meu trabalho na altura. O esforço foi recompensador pelo facto de hoje podermos visualizar este manancial com histórias contadas na primeira pessoa sobre os anos 70/80 e por algumas referirem acontecimentos em finais do milénio.
Celestino Silva
Glória em 2010
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